As Pedras no Caminho… parte 2

Problema Real ou Expectativa Irreal

O conceito de problema mudou consideravelmente desde o surgimento das primeiras sociedades, assim como o modo de nos organizarmos, as relações humanas, o dinheiro e a agricultura. O que não mudou foi a nossa necessidade de criar algum sentido ou objetivo para nossas vidas, aliás essa busca é assunto dos mais presentes na filosofia:

“Feliz aquele a quem resta ainda algum desejo a acalentar: poderá continuar por muito tempo o jogo da perpétua passagem do desejo à sua satisfação, e da satisfação a um novo desejo, jogo que o fará feliz se a passagem for rápida, infeliz se for lenta; mas ao menos não cairá naquela estagnação que é fonte de tédio terrível e paralisante, de desejos vagos, sem objeto preciso, de abatimento mortal.

Arthur Schopenhauer

Georg Hegel, importante filosofo do século XIX, dizia que esses desejos de satisfação, assim como, a arte, os negócios e a política de um determinado período são influenciados por um conjunto intelectual e cultural, chamado Zeitgeist ou Espírito da Época. Esse conjunto de valores e interesses determinaria uma consciência coletiva, ditando regras morais e sociais.

O escritor David Priestland, no seu livro “Uma Nova História do Poder“, foi mais além (como já citamos), afirmando que nossos valores e interesses estão entrelaçados por aquilo que fazemos no trabalho, ou seja, nossa ocupação:

“As pesquisas sociológicas mostram que somos mais propensos a ter uma visão igualitária da economia se trabalharmos para o setor público do que se estamos no setor privado; e temos maior inclinação a ser culturalmente liberais se tivermos uma ocupação que nos conceda certa autonomia do que num emprego submetido a um controle rígido. Isso acontece, em parte, porque tendemos a encontrar um trabalho que combina com nossos valores e nossa educação; e, em parte, porque nossa experiência de trabalho molda nossos valores.

É difícil ser defensor do livre mercado trabalhando como assistente social, assim como ser socialista em um banco de investimentos”.

David Priestland

Isso nos leva a conclusões desconcertantes, nossas expectativas são criadas por um conjunto de regras que, de tão relativas e genéricas, sequer existem, além disso, são influenciadas por paradigmas criados por um grupo restrito, do qual, por acaso, fazemos parte.

Essa expectativa, um tanto desproporcional aos valores individuais, acaba colaborando com um dos principais problemas do homem contemporâneo: o estresse. A frustração gerada pela falta de reconhecimento esperado, a angustiante e não planejada rotina com excesso de pressão, tarefas ou prazos e a ansiedade causada por um chefe autoritário são apenas algumas das causas desse grande obstáculo à realização profissional e felicidade dos indivíduos.

Vamos a uma exemplo prático: A frustração da Geração Y. Jovens nascidos nos anos 80 e criados como o centro das atenções e grandes expectativas moldadas por um Zeitgeist de protagonismo. Para eles nunca existiu a derrota, “o importante é participar”, “a professora é que estava errada”, eram eles que escolhiam a própria comida e foram criadas como pessoas especiais destinadas ao sucesso.

Claro que existem muitas exceções, mas o texto abaixo reflete muito bem a situação que a maioria desses jovens acaba enfrentando no mercado de trabalho:

O jovem da Geração Y não sabe lidar com frustrações. Nesses últimos 20 ou 30 anos, nós não preparamos o jovem para lidar com as perdas. De alguma maneira, a sociedade e a família mudaram o seu discurso e sua forma de lidar com os filhos, protegendo eles de frustrações o máximo que era possível. Ou dividindo essa carga, em uma espécie de companheirismo.

Essa proteção fez com que os jovens se tornassem mais frágeis para o mercado de trabalho. Ele entra nesse mundo qualificado em termos acadêmicos. Mas, não tem muita “casca”, cicatriz, que dê força para suportar a realidade da consequência.

O jovem espera que o mundo corporativo trabalhe a favor dele. Ou que os gestores ajam como os pais, dividindo a responsabilidade, protegendo e dando benefícios antes das consequências. Só que a vida real funciona diferente. Aqui, você banca as consequências para então receber os benefícios.” (fonte)

Esses jovens foram condicionados a acreditar que seriam os próximos Mark Zuckerberg ou Steve Jobs, que apenas seu talento natural seria suficiente para lhes colocar rapidamente em posições de destaques nas empresas, com autonomia e grande influência.

Porém, não há espaço para tantos Jobs ou Zuckerbergs, o caminho está repleto de pedras que não sabemos ou não queremos lidar.

A conclusão desse post é simples, grande parte do que consideramos problemas pode estar associado a expectativas exageradas e, consequentemente, não atendidas.

 

Referências: A Geração Y no Trabalho, Nicole Lipkin e April Perrymore, 2010. Uma Nova História do Poder, David Priestland, 2014. O Livro da Filosofia, diversos autores, 2010. Antologia ilustrada de Filosofia, Ubaldo Nicola, 2005.  http://g1.globo.com/concursos-e-emprego/noticia/2015/04/72-das-pessoas-estao-insatisfeitas-com-o-trabalho-aponta-pesquisa.html. http://epocanegocios.globo.com/Carreira/noticia/2015/05/geracao-y-o-que-os-jovens-mais-precisam-nesse-momento-e-de-mentores.html

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *