Colaboração: do Meio ao Fim

Como a colaboração pode deixar de ser um meio para se conseguir algo e se tornar um fim em si mesma

No texto anterior, sobre Emprego e Renda na Era Pós-Digital, nos deparamos com um cenário bastante imprevisível sobre o mercado de trabalho e as relações econômicas nas próximas décadas.

Discutimos os efeitos da abundância econômica, em paralelo com uma possível irrelevância da mão de obra, e descobrimos algumas alternativas de trabalho e renda.

Um dos pontos que mais me chamou a atenção dentro dessa especulação foi algo que parece inevitável: o protagonismo da colaboração.

Por isso, no post de hoje, vamos entender como o vínculo com a comunidade e uma busca por sucesso coletivo pode colocar a colaboração no centro da economia.

Colaboração Natural

Você certamente já escutou que somos seres sociais. A colaboração não é nenhuma novidade para o ser humano. Porém, para entendermos até onde podemos chegar, vamos avaliar um contexto mais amplo.

A lei da selva

O mundo animal é um terreno muito rico para entendermos as raízes da colaboração. O pesquisador Richard Dawkins cita muitos exemplos em seus livros, eis alguns deles:

  • Um grupo de hienas pode caçar presas muito maiores do que uma hiena sozinha poderia fazer, motivo pelo qual será compensador, para cada indivíduo, caçar em bandos, muito embora isso signifique compartilhar o alimento.
  • Os pinguins-imperadores conservam o calor aconchegando-se uns aos outros, em grandes bandos. Cada um lucra ao expor às intempéries uma superfície corporal menor do que ocorreria se estivesse sozinho.
  • Um peixe que nade obliquamente atrás de outro poderá obter uma vantagem hidrodinâmica, devido à turbulência produzida pelo peixe à sua frente.
  • Um truque semelhante, relacionado à turbulência do ar, é conhecido pelos ciclistas e poderia explicar as formações em V dos bandos de aves durante se voo.

Com apenas poucos exemplos, já conseguimos tirar uma importante lição: a colaboração tem sua origem no egoísmo, não no altruísmo. Afinal, cada animal citado nos exemplos observa uma vantagem clara para si ao viver em grupo:

“Se os animais vivem juntos, em grupos, é porque os benefícios dessa associação, para os seus genes, devem ser superiores ao seu investimento.”

Richard Dawkins

Porém, enquanto no mundo selvagem a principal motivação ainda é o instinto de sobrevivência (segurança, alimento, conservação de energia, reprodução, etc.), para um outro animal, o ser humano, as motivações são muito mais complexas.

Esse é um ponto crucial para entendermos como nossa tendência natural de colaboração se espalhou pelos mais diversos aspectos de nossas sociedades.

Ganho de escala

Segundo o historiador Yuval Noah Hararié verdade que os humanos são animais integralmente sociais, e a lealdade ao grupo está impressa em seus genes.”

No entanto, por centenas de milhares de anos, o Homo sapiens e seus ancestrais viveram em comunidades pequenas, com não mais que algumas dezenas de pessoas.

“Humanos desenvolvem facilmente lealdade a grupos pequenos e íntimos como a tribo, um batalhão de infantaria ou um negócio familiar, mas a lealdade a milhares de pessoas totalmente estranhas não é natural para humanos.”

Foi devido às condições econômicas que essas lealdades em massa apareceram, exigindo imensos esforços de construção social.

As pessoas se deram ao trabalho de construir comunidades cada vez maiores porque se confrontavam com desafios que não podiam ser resolvidos por uma única tribo.

Harari exemplifica essa dinâmica com um evento histórico bem conhecido. Pense nas antigas tribos que viviam ao longo do rio Nilo há milhares de anos. O rio era sua força vital, ele irrigava os campos e transportava o comércio.

Mas era um aliado imprevisível. Se havia pouca chuva, as pessoas morriam de fome; se havia chuva demais, o rio transbordava e destruía aldeias inteiras.

Nenhuma tribo poderia resolver sozinha seus problemas, porque cada uma só dominava alguma pequena seção do rio e não poderia mobilizar mais do que poucas centenas de trabalhadores.

Somente um esforço comum para construir enormes barragens e cavar centenas de quilômetros de canais poderia conter e controlar o poderoso rio:

“Esse foi um dos motivos pelos quais as tribos aos poucos coalesceram numa única nação que teve o poder de construir barragens e canais, regular o fluxo do rio, construir reservatórios de grãos para os anos amargos e estabelecer um sistema de transporte e comunicação abrangendo todo o país.”

Yuval Noah Harari

Colaboração Ampliada

Ao longo da nossa história, muitos outros exemplos de esforço comum podem ser observados, da Revolução Agrícola e Industrial ao próprio Capitalismo.

Mas a união de forças não foi a única responsável por tantos avanços. Em todos esses marcos, o potencial de colaboração humana foi ampliado com o desenvolvimento da tecnologia.

O mito da máquina

Desde os moinhos de vento, passando pelo motor a vapor até chegar aos grandes computadores, a evolução das ferramentas proporcionou um grande avanço na nossa capacidade de produção.

Porém, devido aos altos custos, a tecnologia de alto impacto sempre esteve nas mãos de uma reduzida parcela da população, gerando grandes revoluções, protestos e lutas de classes. Nos anos 60, isso não era diferente:

“Os computadores de grande porte, pesadões, com fitas zunindo e luzes piscando, eram vistos como desumanizantes e orwellianos, ferramentas do mundo empresarial, do governo e da estrutura do poder.”

Walter Isaacson

Em um artigo da época, “O mito da máquina”, o sociólogo Lewis Munford advertia que a ascensão dos computadores poderia significar que “o homem se tornará um animal passivo, sem sentido, condicionado pelas máquinas.”

No início dos anos 1970, porém, quando a possibilidade de computadores pessoais surgiu, as opiniões começaram a mudar.

O computador pessoal

Walter Isaacson nos traz um ótimo exemplo dessa mudança de percepção no livro Os Inovadores. Trata-se de um ensaio produzido pelo professor de Yale Charles Reich: “O renascer da América: A revolução dos jovens”, que ficou conhecido como o manifesto da nova era.

Reich denunciou as velhas hierarquias corporativas e sociais, clamando que elas “fossem substituídas por novas estruturas que incentivassem a colaboração e o fortalecimento pessoal.

Em vez de deplorar os computadores como ferramentas da velha estrutura de poder, Reich sustentava que eles poderiam contribuir para uma mudança de consciência social, se fossem mais personalizados:

“A máquina, uma vez construída, pode agora ser usada com fins humanos, para que o homem, mais uma vez, possa se tornar uma força criativa, renovando e recriando a própria vida.”

Charles Reich

O computador pessoal poderia potencializar algumas habilidades humanas, como a criatividade e a lógica, de uma maneira que nenhuma ferramenta jamais conseguiu.

Porém, para se tornar um fenômeno colaborativo, ainda era necessário conectar essas potencialidades em maior escala.

A internet

Com a chegada da internet, que começava a desenvolver sua rede na mesma época, testemunhamos o surgimento da mais poderosa ferramenta de colaboração.

O curioso é que a criação da rede que facilitou o compartilhamento entre as pessoas foi, ironicamente, resultado de um compartilhamento entre pessoas:

“A internet foi construída em parte pelo governo, em parte por empresas privadas, mas na essência ela é criação de um grupo não muito fechado de acadêmicos e hackers, que trabalhavam em pé de igualdade trocando livremente suas ideias criativas.”

Walter Isaacson

A dobradinha internet e computador pessoal amplificou nossa capacidade colaborativa de uma maneira nunca sonhada. O que se seguiu foram inúmeras inovações que resultaram na Revolução Digital:

A web

Um ótimo exemplo é o de Tim Berners-Lee. Foi graças a ele que navegamos na internet da maneira que fazemos até hoje. Ele foi o idealizador da WordWideWeb (www) ou web, para os íntimos:

“Sempre me interessei pelo modo como as pessoas trabalham juntas. Eu estava trabalhando com um monte de gente em outros institutos e universidades, e eles tinham de colaborar. Se estivessem na mesma sala, teriam escrito na lousa. Eu estava em busca de um sistema que permitisse que as pessoas trabalhassem juntas

Tim Berners-Lee

Para Isaacson, Berners-Lee, com sua personalidade discreta, não entendia como era profunda a ideia que havia lançado. Mais de duas décadas depois, disse o professor: “Passei muito tempo tentando garantir que as pessoas pudessem pôr qualquer coisa na internet. Eu não tinha ideia de que as pessoas iriam pôr literalmente tudo nela.”

Blogger, Twitter e Medium

Ev Willians, nascido na mesma época dos computadores pessoais, também conseguiu vislumbrar o poder colaborativo da era digital. Em 1999, em meio a uma grande oferta de blogs, lançou o Blogger, um produto simples que facilitou a utilização e ajudou a democratizar a publicação:

“Para um garoto nascido em Nebraska, antes da internet era muito difícil se conectar e encontrar uma comunidade de pessoas que pensassem da mesma forma, e o desejo inicial de se conectar com uma comunidade é sempre uma parte de você.

Vim a perceber, bem depois de fundar o Blogger, que ele era uma ferramenta que servia a essa necessidade. Conectar-se com uma comunidade é um dos desejos básicos que impulsionam o mundo digital.”

Ev Willian

Willians veio a ser um dos fundadores do Twitter e depois do Medium, ambas ferramentas de publicação destinadas a promover a colaboração e a partilha.

A Wikipédia

Outra personalidade da revolução digital, que merece destaque, é Jimmy Wales. Afinal, ele criou, simplesmente, o maior projeto colaborativo de conhecimento de todos os tempos: a Wikipédia.

“Um bem comum criado de forma colaborativa e mantido por voluntários que trabalhavam pela satisfação cívica que sentiam.

Era um delicioso conceito contrário ao senso comum, perfeitamente adequado à filosofia, à atitude e à tecnologia da internet.”

Walter Isaacson

Um mês após seu lançamento, em janeiro de 2001, a Wikipédia tinha mil artigos criados por colaboradores voluntários. Em março de 2003 já atingira 100 mil artigos, com cerca de quinhentos editores ativos colaborando quase todos os dias com a plataforma.

No início de 2014, havia edições em 287 idiomas, o número total de artigos era de 30 milhões (em contraste, a Enciclopédia Britânica tinha 80 mil artigos em sua edição eletrônica da época). Milhões de pessoas contribuíram voluntariamente com esse feito.

“Trata-se de um milagre não planejado. Não só todo seu material vem de colaboração gratuita como está disponível de graça

Walter Isaacson

Colaboração Renovada

Como pudemos observar, a história da Revolução Digital caminha junto com a evolução da colaboração. Iniciativas de grandes inovadores elevaram a nossa capacidade colaborativa a um novo patamar.

Com a chegada do mundo digital, as tribos estavam se juntando novamente, mas, agora, não havia mais distâncias.

Cenário que nos faz avançar em nossa investigação, trazendo uma nova inquietação: por que as pessoas ainda colaboram?

Afinal, entender a motivação das tribos do rio Nilo colaborarem entre si é mais simples. A necessidade de colaboração era clara.

Mas, o que explica tamanho desejo das pessoas da era digital de “trabalharem juntas”, “conectarem-se a comunidades”, “democratizarem a publicação” e “colaborarem voluntariamente”?

Por que ainda colaboramos?

Yochai Benkler, professor de Harvard, chamou os projetos de colaboração gratuita de exemplos de “produção entre pares baseada no bem comum:”

“Sua característica central é que grupo de indivíduos colaboram em projetos de grande escala seguindo um conjunto diversificado de impulsos motivacionais e sinais sociais, em vez de preços de mercado ou ordens gerenciais.”

Yochai Benkler

Entre essas motivações estão a recompensa psicológica de interagir com outros e a gratificação pessoal de fazer uma tarefa útil, argumenta Walter Isaacson. Há em ação algo fundamental, quase primordial, que alguns wikipedistas chamam de ‘wiki-crack‘.

Segundo o biógrafo, trata-se de uma descarga de dopamina que parece atingir o centro de prazer do cérebro quando você faz uma edição inteligente e ela aparece no mesmo instante em um artigo da Wikipedia ou um blog pessoal.

Ligada a isso está a satisfação ainda mais profunda que vem de ajudar a criar as informações que usamos, em vez de simplesmente recebê-las de forma passiva:

“O envolvimento das pessoas na informação que leem é um importante fim em si mesmo“, escreveu o professor Jonathan Zittrain, de Harvard.

“A Wikipedia que criamos em comum é mais significativa do que seria a mesma Wikipedia entregue a nós numa bandeja. A produção entre pares abre espaço para que as pessoas se engajem

Walter Isaacson

Movimento de código aberto

O melhor exemplo para entendermos o estímulo à colaboração é o movimento de software livre e código aberto.

“No final de 1983, bem no momento em que Jobs se preparava para revelar o Macintosh e Gates anunciava o Windows, surgiu outra abordagem de criação de softwares.

Ela foi proposta por Richard Stallman, um hacker possuído pela verdade. Ele acreditava que os softwares deveriam ser criados de forma colaborativa e compartilhados livremente.”

Walter Isaacson

À primeira vista, a iniciativa não parecia muito promissora. A partilha livre, definitivamente, não era o que motivava startups como Apple e Microsoft.

Mas, segundo Isaacson, uma vez que havia uma ética colaborativa e comunitária que permeava a cultura hacker, os movimentos de software livre e de código aberto acabaram sendo forças poderosas.

Em 1982, Stallman iniciou a missão de criar um sistema operacional que fosse livre e completamente público. Seu objetivo não era insistir que todos os softwares fossem gratuitos, mas que fossem livres de qualquer restrição:

“Quando falamos de software livre, queremos dizer que ele respeita as liberdades essenciais dos usuários: a liberdade de executá-lo, estudá-lo e mudá-lo, e redistribuir cópias, com ou sem alterações”

Richard Stallman

Para Stallman, o movimento não era apenas uma forma de desenvolver programas produzidos por iguais, era um imperativo moral para fazer uma boa sociedade.

Os princípios que promovia, explicou, eram “essenciais não apenas para os usuários individuais, mas para a sociedade como um todo, porque geram solidariedade social, isto é, partilha e cooperação”.

O grupo de hackers que cresceu em torno das iniciativas de Stallman mostrou que os incentivos emocionais, além das recompensas financeiras, podem estimular a colaboração voluntária.

Um desses hackers é o polêmico Linus Torvalds. Seguindo o caminho oposto de Jobs e Gates, o finlandês “abriu” seu sistema operacional, o Linux, pois acreditava que “deixar os programadores do mundo todo colocar as mãos no código-fonte levaria um esforço colaborativo aberto que resultaria num software mais impressionante.”

Seu instinto estava certo. A liberação do Linux levou a um tsunami de colaboração voluntária, que se tornou o modelo de produção compartilhada e impulsionou a inovação digital:

“O dinheiro não é o maior dos motivadores. As pessoas fazem seu melhor trabalho quando são movidas pela paixão. Quando estão se divertindo. Isso é tão verdadeiro para dramaturgos, escultores e empresários quanto para engenheiros de software.

Os hackers também são motivados, em grande parte, pelo respeito que podem ganhar aos olhos de seus pares ao dar contribuições sólidas. Todo mundo quer impressionar seus pares, melhorar sua reputação, elevar seu status social. O desenvolvimento de códigos abertos dá ao programadores essa chance.”

Linus Torvalds

A citação de Torvalds é importante porque nos conecta com a nossa natureza, com a Colaboração Natural. Afinal, um componente egoísta também estimula o comportamento colaborativo na selva digital.

Quando considera o fator humano, o movimento se afasta de uma utopia e se aproxima de uma iniciativa genuína e perene.

Colaboração Protagonista

A colaboração é a grande protagonista dos movimentos de software livre e código aberto. Para aqueles programadores e engenheiros de software, colaborar não era apenas um meio de conseguir as coisas, mas a própria finalidade.

Na era Pós-Digital, o movimento inaugurado por hackers pode (e deve) sair do ambiente digital para ganhar o mundo.

Colaborativismo

Se confirmadas, a abundância que discutimos no post anterior vai exigir uma reorganização econômica e política. Segundo Jeremy Rifkin, autor do livro e teoria Sociedade com Custo Marginal Zero, o protagonismo da colaboração será evidente:

“A democratização da Inovação e da criatividade na sociedade colaborativa está produzindo um novo tipo de incentivo, baseado menos na expectativa financeira e mais no desejo de promover o bem-estar social da humanidade. E tem obtido sucesso.

Em um mundo de abundância, o capital social vai desempenhar um papel muito mais significativo que o capital financeiro e a vida econômica ocorrerá crescentemente num ambiente colaborativo

Jeremy Rifkin

Segundo Rifkin, na próxima era, tanto o capitalismo quanto o socialismo perderão sua influência anteriormente dominante sobre a sociedade, conforme uma nova geração se identifica cada vez mais com o colaborativismo:

“Os jovens colaborativistas estão tomando emprestadas as principais virtudes do capitalismo e do socialismo e eliminando a natureza centralizadora, tanto do livre mercado quanto do estado burocrático.”

Jeremy Rifkin

Está amadurecendo uma nova geração com perfil empreendedor mais autônomo por ser mais envolvida socialmente. Não surpreende que os melhores e mais inteligentes da geração do milênio pensem em si como “empreendedores sociais“.

Para eles, ser ao mesmo tempo empreendedor e social não é mais uma contradição, mas sim uma lógica. As evidências de que isso já está acontecendo estão por toda parte.

Empreendedor social

Algumas iniciativas que já conhecemos há anos ganham mais espaço, como o setor sem fins lucrativos, que já representam 5% do PIB de países como Estados Unidos, Canadá, Japão ou França, ou as cooperativas que estão presentes em praticamente todos os setores. Nos Estados Unidos, por exemplo, são mais de 350 milhões de associados.

Porém, o envolvimento social colaborativo está ainda mais presente. Algumas iniciativas permitem o “hackeamento” de questões sociais:

Startups – Novas startups começaram a voltar sua atenção para oportunidades de negócios promissoras no setor social e acompanharam o mercado para preencher esse vácuo. Peter Drucker abordou a ideia de fazer o bem e fazer bem.

Segundo seu argumento, os problemas da pobreza crônica, da falta de educação, da deterioração ambiental e diversos outros males sociais poderiam ser melhor solucionados dando liberdade ao veio criativo do empreendedorismo.

Projetos de coleta seletiva de lixo, substituição do plástico, cuidados com o público idoso, habitação para o público de baixa renda e várias outras atividades e serviços tradicionalmente incorporados ao domínio governamental, agora são considerados oportunidades de negócios.

Iniciativas Empresariais – As “benefit corporations”, algo como corporações que geram benefícios ao público, são um novo modelo de negócio que busca repaginar a empresa capitalista convencional para permitir que seja mais ágil e capaz de se adequar ao novo mundo.

Embora operem como empresas capitalistas e prestem conta a seus acionistas, este novo status legal permite que coloquem à frente suas obrigações sociais e ambientais, sem se arriscar a sentir a fúria de investidores interessados apenas em otimizar o valor para o acionista.

As benefit corporations são parte de uma tendência maior, que capturou a imaginação de uma geração mais jovem que está saindo das escolas de administração ao redor do mundo.

Meio Acadêmico – Realmente, o empreendedorismo social é o assunto do momento em diversas universidades ao redor do mundo. O currículo de Harvard inclui cursos com títulos como “Gestão de Empresas Sociais”e “Introdução em Empreendedorismo Social”.

O departamento de sociologia possui um “colaboratório” de empreendedorismo para promover a imersão dos estudantes nos aspectos sociológicos da nova economia.

A President’s Challenge, outra iniciativa universitária, distribui US$ 150 mil a equipes de alunos envolvidos em trabalhos acadêmicos e de campo para encontrar “soluções para problemas globais, que incluem educação, saúde e poluição do ar e da água”.

Service-Learning – Enquanto isso, uma nova geração começou a ingressar na economia nos Estados Unidos, a primeira a ser exposta ao service-learning, ou aprendizagem integrada à responsabilidade social, nos ensinos médio e superior.

Jovens que não tinham o hábito de participar de projetos e iniciativas sem fins lucrativos nas comunidades em risco experimentaram uma nova maneira de encontrar significado e valor próprio, além das oportunidades estritamente comerciais oferecidas pelo mercado.

Fundações – Redes Globais como Ashoka, a Fundação Skoll, o fundo Acumem, a Fundação Telefônica e o Centro Avançado de Empreendedorismo Social da Duke University servem como institutos de pesquisa, associações de comércio e agentes de financiamento para promover o empreendedorismo social ao redor do mundo.

A Skoll Foundation, por exemplo, concedeu, desde sua fundação em 1999, mais de US$ 358 milhões em subsídios para 97 empreendedores e 80 organizações nos cinco continentes envolvidos em promover empreendedorismo social.

Força de trabalho – Os empreendedores sociais não são os únicos que começaram a passar da economia de mercado capitalista para o colaborativismo.

Em alguns países, empregados de organizações sem fins lucrativos já representam uma boa fatia da força de trabalho:

  • Na Holanda, 15,9%
  • Na Bélgica, 13,1%
  • No Canadá, 12,3%
  • Na Inglaterra, 11%
  • Na Irlanda, 10,9%

“Essas porcentagens devem aumentar consistentemente nas próximas décadas à medida que o emprego passa de uma economia de mercado altamente automatizada para uma economia social altamente intensiva de mão de obra.”

Jeremy Rifkin

Para Finalizar

Como vimos, não se trata de mera especulação ou utopia infundada. O colaborativismo já é muito mais real do que se imagina.

A disseminação de um movimento que já foi experimentado por hackers no início da era digital pode representar o início da ruptura entre a busca por propósito e a adoração do “eu”.

Uma sociedade mais madura que, como um jovem adulto, começa a superar seu narcisismo.

O protagonismo da colaboração na economia da Era Pós-Digital nos fará interessar mais em servir do que exigir servidão.

Isso me faz lembrar de algo que discutimos em outro artigo.

Podemos usar nossa liberdade criativa e especular que, assim como o indivíduo, a humanidade também está evoluindo e escalando as oito camadas de necessidades da pirâmide de Maslow ao longo da história.

A boa notícia é que estamos quase lá:

  • Primeira camada: Fisiológica.
  • Motivações: Ar, comida, bebida, sono, calor.
  • Quando começamos a criar ferramentas e dominar os recursos.
  • Segunda camada: Segurança.
  • Motivações: Estabilidade, saúde, utilidade.
  • Quando começamos a nos reunir em tribos cada vez maiores.
  • Terceira camada: Pertencimento.
  • Motivações: Aceitação, amizade, intimidade, relacionamento.
  • Quando começamos a revolução agrícola e os cercamentos.
  • Quarta camada: Autoestima.
  • Motivações: Conquista, reconhecimento, respeito, competência.
  • Quando intensificamos as lutas de classe, as disputas políticas, as revoluções e as guerras.
  • Quinta camada: Cognitiva.
  • Motivações: Conhecer, compreender.
  • Quando começamos a revolução científica.
  • Sexta camada: Estética.
  • Motivações: Ordem, beleza, simetria.
  • Quando começamos o renascimento e a revolução do design.
  • Sétima camada: Autorrealização.
  • Motivações: Alcançar o potencial pessoal.
  • Quando começamos a revolução digital.
  • Oitava camada: Autotranscedência.
  • Motivações: Ajudar os outros, ligar-se a algo além de nós mesmos.
  • Quando a colaboração se tornar um fim...

Referências: Sociedade com Custo Marginal Zero, Jeremy Rifkin, 2016. Os Inovadores: Uma Biografia da Revolução Digital, Walter Isaacson, 2014. 21 Lições para o Século 21, Yuval Noah Harari, 2018. O Gene Egoísta, Richard Dawkins, 1976.

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