As Pedras no Caminho… final

Construindo o Castelo

Nos últimos 3 posts, chegamos a 3 conclusões sobre os problemas que temos ao longo de nossas vidas:

  • As dificuldades são inevitáveis, necessárias e essenciais para a formação e desenvolvimento de indivíduos e sociedades. A maneira que lidamos e reagimos a elas são determinantes para nosso sucesso.
  • Criamos expectativas exageradas baseadas em pressões externas, que, na maioria dos casos, não refletem nosso próprio interesse.
  • Reagimos ao que consideramos ameaça da mesma maneira que nossos antepassados, preparando nosso corpo para luta ou fuga, o que é, quase sempre, incoerente às situações que vivemos hoje.

Claro que existem acontecimentos fora da curva, estamos discutindo aqui os problemas corriqueiros que as pessoas, invariavelmente, acabam passando em algum momento. Mas, no final das contas, o que define a intensidade de um problema são apenas pontos de vista.

Em 80 d.C., o filósofo grego Epiteto proclamou que “não são os acontecimentos que perturbam os homens, mas, sim, como estes os enxergam“. Felizmente existem algumas maneiras de mudar a visão em relação às pedras em nosso caminho.

Autoconhecimento

Antes de qualquer coisa, precisamos entender os sinais que nosso corpo nos dá. As emoções e sentimentos são o caminho mais objetivo para entendermos onde estamos errando:

“…deveríamos começar a desenvolver uma relação mais consciente com as nossas emoções. Buscar conhecê-las cada vez mais e entender o que estão nos indicando, o que nos querem dizer. Não podemos esquecer que os grandes pensadores da humanidade eram e são aquelas pessoas que sabem conhecer a si mesmas. Somos propensos a interpretar e exagerar as coisas. Por que não desacelerar, respirar fundo e colocar as circunstâncias em suas reais perspectivas?”

Estanislao Bachrach

O entendimento das reações hormonais do nosso corpo, perante alguma situação estressante, também é de extrema importância.

Quando sabemos os motivos do nosso coração estar mais acelerado, do nosso rosto estar ruborizado ou de não conseguirmos lembrar de algumas coisas, conseguimos lidar muito melhor com a situação, nosso corpo pode entender o estresse como resposta a um desafio e não a uma ameaça. 

Nesse caso, o organismo libera mais ocitocina, que ajuda a regenerar as células do coração. Essa diferença depende de sua mente: “é você quem dirá ao seu corpo se uma situação é desafiadora ou ameaçadora” (revista Superinteressante, edição 355).

Um recente artigo da Harvard Business Review nos mostra 4 passos para “Acalmar nosso Cérebro Durante o Conflito“: Stay Present, Let go of the story, Focus on the body e Finally, breathe. Vale a pena a leitura!

Além de entender o que motiva nossas reações emocionais e fisiológicas e como lidar com elas, precisamos compreender o “quê” e “por que” acreditamos em algo. Devemos nos transformar em quem somos, fugir da “Tirania dos Deveres” ou do Zeitgeist, aquele conjunto de valores impostos pelo mundo ao nosso redor.

Para isso, precisamos ser capazes de separar uma crença pessoal daquilo que nos foi imposto e, por outro lado, saber se estamos dispostos a enfrentar os obstáculos que fazem parte do ‘pacote”, como um estoico. Não adianta, por exemplo, buscar um cargo de gerente de vendas e não admitir ser pressionado quando as coisas vão mal.

Reflexão

Albert Ellis, um dos psicólogos mais influentes dos Estados Unidos, afirmava que não são as experiências em si que causam reações emocionais aos indivíduos, mas, sim, as suas convicções sistemáticas.

Quando praticou psicanálise nos anos 1940 e 1950, notou que muitos pacientes conseguiam obter conhecimento sobre si mesmos e suas infâncias, mas seus sintomas, infelizmente, continuavam. Quando um problema era solucionado, parecia que o paciente colocava outro em seu lugar (conhecemos muitas pessoas assim, não é mesmo?).

Ellis concluiu que isso era resultado do raciocínio do indivíduo (sua cognição) e que, para ser alterado, era preciso mais do que conhecimento.

Entendeu também que a maioria dos problemas emocionais deve-se, na maioria das vezes, a pensamentos irracionais. Uma das formas mais corriqueiras de irracionalidade, segundo ele, é a tendência a tirar conclusões extremadas, sobretudo negativas, de tudo o que acontece.

Criou assim, a Terapia Racional Emotivo-Comportametal (TREC), que, como o próprio nome diz, trata tanto da reação emocional (um processo cognitivo) quanto um comportamento. A relação entre os dois é ambivalente, é possível mudar o jeito de pensar alterando o comportamento, assim como, se pode modificar o comportamento mudando o jeito de pensar.

A TREC identifica os padrões de pensamento irracional que levam a convicções perniciosas e arraigadas e mostra como contestá-los.

  • Tudo começa com uma adversidade, um acontecimento que causa angústia. Por exemplo: “Perdi meu emprego!”
  • Nossas convicções ditam os pensamentos inicias (irracionais) sobre o acontecimento, seguindo nosso exemplo: “Não presto para nada. Jamais conseguirei outro emprego!”
  • Como consequência, essas convicções irracionais geram sentimentos: “Estou deprimido e ansioso”.
  • A TREC nos ensina a contestar de modo racional nossas convicções iniciais: “Estou enxergando isso de um jeito equivocado!”.
  • Como efeito, temos convicções revisadas e racionais acerca do que aconteceu: “Vou conseguir outro emprego. Não é o fim do mundo”.

A Terapia Racional Emotivo-Comportamental sugere formas de pensar e como escolher caminhos mais saudáveis e, também, como internalizar e habituar-se a ter convicções mais benéficas.

Trata-se daquele diálogo interno que todos nós fazemos de forma automática, a ideia é doutrinar essa conversa. Claro que não se trata de uma mudança do dia para noite, Ellis também costumava enfatizar que teorizar não é o suficiente: “é preciso apoiar a teoria com ação, ação, ação“.

Os melhores anos de sua vida são aqueles em que você decide assumir seus problemas e percebe que controla seu destino.

Albert Ellis

Aceitação

O psicólogo americano Carl Rogers dizia que é essencial a capacidade de se manter presente no momento atual, uma vez que o “eu” e a personalidade são criados pela experiência. No entanto, as pessoas insistem em criar esquemas de como acham que a vida deve ser e qual o nosso papel no mundo.

Quando o mundo não faz “o que queremos” e nos sentimos incapazes de mudar nossas ideias, “o conflito emerge sob a forma de uma postura defensiva”.

Rogers explicou essa postura como uma tendência inconsciente de usar as estratégias para impedir que estímulos problemáticos adentrem a consciência.

Nós negamos (bloqueamos) ou distorcemos (reinterpretarmos) o que de fato está nos acontecendo para manter nossas ideias preconcebidas e, assim, deixamos de aprender (comportamento comum e facilmente percebido por um observador mais atento).

Se, em vez disso, nos permitirmos ficar mais à vontade com nossas emoções, inclusive as que consideramos negativas, teremos acesso ao “eu” mais autêntico e nos tornaremos mais autoconfiantes.

O livro The Meaning of Anxiety (1950), do psicólogo Rollo May, trouxe uma nova abordagem à psicologia, mais centrada na humanidade, que ficou conhecida como Existencialismo.

Segundo May, é evidente que tendemos a buscar experiências que nos façam sentir confortáveis. Gostamos de ambientes familiares e preferimos experiências que mantenham nossas faculdades mentais e físicas em estado de equilíbrio ou comodidade.

Essa tendência, no entanto, nos leva a julgar e rotular experiências como “boas” ou “ruins”, com base somente no nível de conforto e prazer que nos proporcionam.

May diz que, dessa forma, prejudicamos a nós mesmos, pois estamos lutando contra processos que nos trariam grande crescimento e desenvolvimento, caso os aceitássemos como parte natural da vida.

“O sofrimento e a tristeza não são questões patológicas a serem consertadas, eles são partes essenciais e naturais da vida humana e importantes por promoverem desenvolvimento psicológico”

Rollo May

Para finalizar

O Autoconhecimento, a Reflexão e a Aceitação são as grandes ferramentas para lidar com os sintomas das pedras em nosso caminho.

Com elas, conseguimos filtrar melhor os estímulos externos, aprendemos a nos preocupar apenas com os problemas reais, sabemos como lidar e até tirar proveito dessas “pedras” e aceitamos as adversidades como parte natural e importante da vida:

Nos tornamos maiores do que os nosso problemas.

“Uma nação pode – sem jamais ser vencida – experimentar uma derrota física; contudo, quando ela se torna vítima de uma derrota psicológica.. aí está o fim de uma nação

Ibn Khaldun – filósofo e historiador árabe.

 

Referências: O Livro da FIlosofia, diversos autores 2011. O Livro da Psicologia, diversos autores, 2012.  Agilmente, Estanislao Bachrach, 2012. Transforme Seu Stress, Superinteressante, edição 355. https://hbr.org/2015/12/calming-your-brain-during-conflict.

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